sábado, 2 de outubro de 2010

Emprego

Eu poderia dizer que achei um emprego aqui em Dublin, mas a verdade é que o emprego me achou. A Gabriela, que tá aqui há 10 meses e é amiga do Moa, foi chamada pra ajudar em um restaurante indiano que ela já trabalhou terça. Como ia precisar mais alguém, ela ligou pro Moa. Como precisa ter um inglês razoável, pra atender telefone e as mesas, o Moa não foi e passou pra Cláudia, que não se animou e passou pra mim. E só por isso eu tô trabalhando desde o meu nono dia aqui. O que é bem raro. Tem gente que tá procurando emprego há mais de dois meses e ainda não conseguiu.
O gerente é um indiano que tá aqui há 8 anos, mas ainda não fala inglês muito bem. Talvez porque entre os amigos fique falando em indiano o tempo todo. Eu acho isso uma falta de respeito comigo, eles falarem na minha frente uma língua que eu não entendo. Por enquanto sou a única garçonete, mas ontem trabalhei por duas e hoje vou levar a Débora junto, porque amigos meninos já levei dois e ele não quer. Tomara que dê pra ela ficar, pra voltar depois comigo, porque eu tenho medo de andar pelas ruas às 11 da noite. Por mais que Dublin seja uma cidade 24h e que eu passe por várias mulheres também andando sozinhas, acho perigoso. Se bem que o caminho que eu volto é bem iluminado e tem vários mercados, bares e lanchonetes abertos.
Cheguei dois dias atrasada porque me perdi indo pro restaurante. Em quatro dias de trabalho já devo ter feito todos os caminhos possíveis até lá. E o gerente deu piti. Ontem ele deu vários pitis porque quer que eu já tenha decorado a abreviação de cada prato pra escrever na comanda e passar pra cozinha. Só que eu ainda não consegui. São uns nomes muito estranhos dessas comidas. E ele não quer que eu pergunte pros clientes qual o número do prato no cardápio, o que me facilitaria muito. Mas tô orgulhosa de mim de conseguir decifrar o sotaque irish no telefone, ainda mais pedindo essas comidas.
O restaurante vai pagar 5 euros por hora. O que está bem abaixo do valor que a imigração determina como mínimo, que é de 8,65 euros. Pra compensar, me enchem de comida. Só que não é do meu agrado e muito apimentada. O gerente fala que posso pegar refri, café, o que eu quiser, mas prefiro comer só o que me oferecem mesmo. Já rolou de o gerente me dar alguns trocados de gorjeta, mas ainda não disse em quantos dias por semana vou trabalhar e nem falou sobre pagamento. Isso dos 5 por hora foi a Gabriela que me passou.
O Dario e a Marcela estão me recomendando não fazer nenhum comentário ofensivo sobre o lugar em que eu estou trabalhando, por uma questão de ética. Então limite-se a imaginar as questões de higiene, ou da falta dela, com as quais eu sou bem exigente e não estou satisfeita. Exemplo, pegar dinheiro e em seguida pegar com a mão suja uma massinhas que vai na sacola de delivery. Tá, se eu fosse da vigilância sanitária esse lugar ia levar multa. Pode falar assim pessoal¿
Agora sigo atrás de um emprego de au pair. Ontem liguei pra Ursula, que é uma pessoa aqui que agencia babás e tal. Ela disse que sem experiência e carteira de motorista eu provavelmente vou receber menos. Se conseguir. Mas vou seguir tentando, porque é um emprego que dá casa, comida e o dinheiro que se recebe dá pra guardar e juntar pra viajar depois. E deve ser bem tranquilo.
Além de lavar louça, limpar e atender as mesas, levar as bebidas e atender o telefone, eu encho os potinhos que vão na delivery com dois tipos de molho qu todo mundo ganha, pra comer com a tal massinha, que parece uma massa de pastel frita.
Hoje trabalho das 4 às 11h. Ontem foi melhor, pq foi das 7 às 11. Sete horas seguidas, depois das 4 de aula, é meio cansativo. É bom estar trabalhando, claro, mas aí o meu dia se resume a aula e trabalho. Fico com vontade de acompanhar o pessoal nos passeios e não dá mais.

Parte da turma da aula. Da esquerda pra direita, ? (Polônia), Lorena (Espanha), Fabrízio (POA), eu, ? (México), ? (China), Lily (Malásia), ? (Venezuela)


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