domingo, 25 de setembro de 2011

Edimburgo

O próximo grupo sai em 11 minutos”. Foi assim mesmo, em Português, que o guia vindo de Portugal (e que conhece o Brasil e inclusive Santa Maria) me avisou da saída do free walk tour. Para seguir um dos passeios guiados é só entrar no grupo formado em torno de um dos guias de camiseta vermelha, que ficam na Royal Mile, a rua onde tudo acontece e que termina (ou começa) no Castelo.

Assim como o acesso a informações sobre cultura e passeios, chegar ao centro de Edimburgo também foi muito fácil. Logo na saída do aeroporto está o bus Citylink, que deixa os turistas bem no centro.
A cidade aproveita o ar fantasmagórico proveniente da mistura entre tempo nublado e construções de pedra e oferece diversos Ghost Tours. No free tour ficamos sabendo de um oferecido pela equipe de guais, que preza o lado mais cultural da cidade. Mas existem outros oferecidos por atores e grupos de turismo, em que parte da equipe fica escondida em cemitérios e outros lugares pelos quais o tour passa para assustar os turistas. Não é a toa que Edimburgo leva o nome de cidade mais assombrada da Europa. 
A modalidade “cultural” do tour fantasma também proporciona frio na barriga. Afinal, visitamos cemitérios e lugares sinistros durante a noite. E é legal porque durante o passeio nossa guia, dessa vez espanhola, deu dicas de outros passeios. 
Prepare as pernocas! Apesar de pequeno, o centro e a parte antiga de Edimburgo são cheios de escadarias e ladeiras.


O Kilt é usado no dia a dia e em ocasiões especiais. Cada padrão de xadrez representa um clã da Idade Média. Essa dupla estava entrando em um casamento e chamou muito mais atenção que a noiva.
Dizem que o pub The Elephant House pode ser considerado o primeiro escritório de uma certa escritora. É que ela chegava logo cedo, pedia um café e ficava ali o dia todo escrevendo o que depois seria o primeiro volume de uma série de sucesso. Dizem que J. K. Rowling ia para o pub para economizar a calefação em casa enquanto Harry Potter ainda não tinha feito dela a mulher mais rica da Escócia. 
Praça das Execuções. Precisa explicar?

Museum on the Mound – nesse museu de entrada franca é possível simular uma apólice de seguro e cunhar uma moeda como se fazia antigamente: à martelada. 
Era proibido fotografar lá dentro, mas eu fui até a recepção e pedi, com o argumento de que “quando eu teria diante de mim uma caixa com um milhão de Pounds novamente?”. A atendente entendeu!
Scott Monument – construído em homenagem ao escritor Robert Scott, o monumento gótico fica no jardim da Princess Street. Para quem tiver fôlego de subir os seus 287 degraus ele reserva uma vista panorâmica da cidade.
St. Giles Cathedral
Uma das igrejas mais bonitas que visitei
O teto faz alusão à bandeira escocesa...
que está também nas cadeiras
O Castelo de Edimburgo
Logo na entrada, estátua em homenagem a William Wallace (o Coração Valente)
Vista do topo do Castelo
Cada um dos prédios que compunham o entorno do castelo foram transformados em museus.
No museu da Guerra, um cão do exército empalhado. Os escoceses adoram cachorro
tem até um Dog Cemetery dentro do Castelo, com as sepulturas dos cães reais
Das prisões de guerra, foram preservadas portas de madeira com inscrições dos detentos
Na saída do Castelo, o Wallace cover oficial
Royal Mile
É na Royal Mile que fica o Museu do Uísque, a Câmara Obscura e Museu das Ilusões e panfleteiros chamando para várias outras atrações.
Como não tinha tempo de ir até o Lago Ness, aproveitei um desses folderes e assisti, na Royal Mile mesmo, a um documentário 3D com um dos principais envolvidos nas pesquisas sobre a existência do monstro do lago.

A Câmara Obscura é um aparato de lentes que permite ver em um lençol branco dentro de uma sala escura imagens das ruas, como se estivéssemos assistindo TV. Do alto do prédio tem uma vista bonita de Edimburgo. No mesmo prédio encontram-se as várias salas de atrações do Museu das Ilusões, um museu totalmente interativo e cheio de ilusões de ótica. Um lugar pra voltar a ser criança e se divertir muito. 
The Scotch Whisky Experience é o museu para aprender sobre o uísque escocês. Eles colocam a gente dentro de um carrinho que vai andando enquanto um documentário sobre a preparação da bebida é apresentado nas paredes. Daí falam sobre água, fermentação, cevada, barris de carvalho... Depois nos levam para uma sala para aprender sobre os diferentes tipos de uísque produzidos em 4 diferentes regiões do país. Num cartão de papel é possível sentir o aroma de cada um dos 4 tipos e ganhar uma dose do seu preferido. Eles mostram a maior coleção de uísques, que pertence a um brasileiro!
O prédio mais antigo da cidade onde o xadrez nunca sai de moda
A estrutura dessa antiga escada foi preservada para mostrar o que era uma tradição na Escócia: construir a escada com um dos degraus falso (no caso, o terceiro), com o objetivo de “derrubar” ladrões que invadiam as residências no escuro. Devido ao hábito frequente dos escoceses de beber além da conta e chegar em casa cambaleando, a tradição foi aos poucos se extinguindo, pois quem mais caia eram os próprios donos das casas.
A tradição manda que se cuspa toda vez que passar por esse coração

Histórias sombrias 
(quem quiser surpresa sobre as histórias que serão contadas pelos guias durante o Ghost Tour, não leia os próximos parágrafos)

O cemitério Greyfriars guarda duas das histórias mais interessantes da cidade.

A primeira é sobre o Bobby, um cão que passou o dia no cemitério quando seu dono foi enterrado. No dia seguinte ele visitou a sepultura mais uma vez, causando comoção em quem assistiu à cena. E foi assim pelos próximos 14 anos. Todos os dias Bobby ia para o cemitério e ficava ao lado do túmulo do dono, até que alguém resolveu proibir a entrada de cachorros no local. Quando morreu, Bobby ganhou uma lápide dentro do cemitério, embora não tenha sido enterrado lá. E algum tempo depois, uma estátua que se popularizou em imã de geladeira, chaveiro e todo tipo de souvenir. Embora tida como lenda criada para atrair turistas, a história de Bobby é um símbolo de fidelidade e amizade.
A outra é a história de uma ala do cemitério que está gradeada. Ou melhor, do porquê a ala foi trancada à visita dos turistas.

Há muito tempo, havia um guerreiro sanguinário que era encarregado de capturar os soldados desertores e torturar os prisioneiros de guerra. Ele era famoso pela crueldade com que tratava os inimigos. Mas também era uma figura importante para o exército, com várias condecorações. Quando ele morreu foi enterrado no Greyfriars.

Alguns dias depois do enterro, um vigilante do cemitério foi surpreendido por uma algazarra em torno de um túmulo durante uma madrugada. Ele se deparou com uma cena de necrofilia, da qual participavam adolescentes que haviam violado a sepultura desse guerreiro. Quando levados para interrogatório, os adolescentes disseram que não se lembravam do que tinha acontecido. Disseram que foram atraídos para o cemitério e não lembravam de nada além.
Surgiram então boatos de que o guerreiro tinha algum pacto com o diabo e continuava a fazer maldades mesmo depois de morto. Foi chamado um padre para exorcizar o local. Quando o padre se aproximou da sepultura do guerreiro, disse que havia uma força negativa muito forte o ameaçando de morte caso ele desse mais um passo. O padre recuou da tarefa de exorcizar e teve um infarto fulminante um mês depois.
Diante disso, os rumores e especulações aumentaram. Como se tratava de uma época em que as pessoas eram muito supersticiosas e para manter a segurança dos cidadãos, foi determinado que aquela ala do cemitério ficaria trancada e que ninguém entraria sem autorização. E assim foi por muitos anos. Essa história continuou a ser contada pelos habitantes de Edimburgo e mais tarde pelos guias turísticos, que se limitavam a parar com seus grupos em frente à grade para fazer o relato.

Até que, há pouco tempo, uma empresa de turismo conseguiu autorização para levar grupos além da grade e mostrar de perto a sepultura do guerreiro malvado. Pois bem. Na primeira visita, enquanto o grupo ouvia atento o relato entusiasmado do guia, algo atingiu com força as costas de uma das turistas. Ela ficou machucada e processou a empresa de turismo, acreditando se tratar de uma brincadeira de alguém da equipe que estivesse escondido no local para tornar o passeio mais assustador. A equipe de turismo nega e não tem explicação para o que pode ter atingido a mulher. A partir de então, todos os turistas que quisessem visitar aquela ala do cemitério deviam assinar um termo se responsabilizando pela própria segurança.

A segunda visita guiada para a ala proibida não teve mais sorte. Talvez por ansiedade, talvez por uma peça do destino, o fato é que o guia teve um ataque de epilepsia exatamente quando o grupo se encontrava diante da sepultura. Apavorados e sem saber exatamente do que se tratava, os turistas correram em disparada aos gritos, deixando o guia sozinho se debatendo no chão. Ele foi resgatado pelo vigilante do cemitério e ficou tudo bem. Mas, a partir de então, todos os turistas interessados em visitar a ala proibida deveriam assinar um termo se responsabilizando pela própria segurança E por acudir o guia em caso de perigo ou acidente. 
A guia que me contou essa história durante o Ghost Tour disse que estava visitando o cemitério com uma colega de trabalho, ensaiando como seriam os relatos quando estivessem com os grupos de turistas, quando viram o vigilante se aproximar da grade para fazer a limpeza do local. Correram até ele e pediram para entrar enquanto ele estivesse por ali, só para matar a curiosidade. Ele comentou com elas que não era brincadeira, alguma energia realmente negativa emanava daquele lugar. Disse que toda vez que entrava para a limpeza encontrava uma quantidade enorme de animais mortos, muito maior do que no resto do cemitério. E adivinha onde os animais mortos estavam? Nos arredores do túmulo do guerreiro... Mas que se elas quisessem, sim, poderiam entrar para saciar a curiosidade. Ao que elas imediatamente mudaram de ideia e se mandaram.

Eu, que acredito na energia que as pessoas (vivas) têm e ainda não sabia da história, estive sentada exatamente na calçada ao lado da grade que dá acesso à ala e não senti nada. Mas, apesar de fotografar tudinho quando estou viajando, por algum motivo esqueci da câmera e não fotografei mais nada até já ter saído do cemitério. Por isso não tenho fotos da tal ala gradeada para mostrar. 
Esse espaço protegido logo na entrada do cemitério era destinado a colocar os corpos dos recém defuntos antes que fossem sepultados. Foi uma época de escassez de corpos para a Faculdade de Medicina usar nas aulas, o que obrigou o hospital local a comprar corpos das famílias que se dispunham vender. Mas isso não deu muito certo e acabou incentivando um comércio ilegal de cadáveres. Dois bandidos, William Burke e William Hare, se especializaram no crime. Primeiro recolhendo mendigos e doentes que morressem nas ruas. Depois, “incentivando” o processo em alguns casos, assassinando prostitutas e bêbados. E ainda, violando sepulturas recentes. Então, para garantir o sossego de seus entes queridos, as famílias de posse “alugavam” esse espaço protegido do cemitério para deixar o corpo até que entrasse em decomposição e já não pudesse mais servir para estudo. Aí podia ser enterrado. 
Algum tempo depois, enquanto brincavam em um terreno afastado, um grupo de crianças encontrou 17 caixõezinhos enterrados. Por se tratar do mesmo número de crimes de Burke e Hare, a confecção dos caixões é atribuída a um dos integrantes da dupla, que sofria de problemas mentais. Provavelmente sentindo-se culpado pelos assassinatos e roubos dos corpos, ele lhes proporcionava um enterro com uma reprodução do corpo e do caixão feitos de madeira. Os caixõezinhos estão no Museu de Edimburgo.
A área protegida do Calton Cemetery era uma “gaiola” maior. Coube todo nosso grupo do Ghost Tour dentro

Calton Hill
O morro Calton Hill é cercado de histórias sombrias porque possui 3 construções que foram um fracasso. 
A primeira é esse prédio em formato de caleidoscópio que foi construído para funcionar como farol. Mas o morro não possui elevação suficiente e o farol não pode ser avistado pelos barcos lá embaixo. Só quando já estava pronto é que foram se dar conta.

A segunda é um Planetário feito com os equipamentos mais modernos da época de sua construção. Só um detalhe foi esquecido. O céu da Escócia é nublado e encoberto na maior parte dos dias, impossibilitando uma perfeita visualização das estrelas...

A terceira é uma obra de 1822 que deveria ser uma réplica do Partenon, da Grécia, e seria chamado de Monumento Nacional. Mas ficou conhecido mesmo com o nome de “Desgraça de Edimburgo” porque foi um projeto muito caro e que nunca chegou a ser concluído. Dizem que o dinheiro público arrecadado para o projeto sumiu junto com seus idealizadores. Ainda que inacabado, o pedaço da Grécia na Escócia atrai turistas para o morro todos os dias. 
Vista do Calton Hill
Essa ponte no centro de Edimburgo é conhecida como Ponte Amaldiçoada. Isso porque, há muito tempo, a ponte desabou provocando a morte de várias pessoas. Os engenheiros não encontraram nenhuma explicação para o desabamento, e a prefeitura providenciou que se iniciasse a construção da nova ponte, que é a atual. Mas os moradores da cidades estavam amedrontados e diziam que ninguém mais teria coragem de usar a tal ponte. Então a autoridade da cidade determinou que, apesar de ser totalmente segura, a primeira pessoa a atravessar a ponte deveria ser o cidadão mais idoso de Edimburgo. Assim, se acontecesse algum acidente, seria já com uma pessoa próxima de passar desta para uma melhor mesmo.

E foi localizada a senhora mais idosa da capital escocesa. Mas daí que a criatura, no auge de sua lucidez quase centenária, achou a história um absurdo e se negou a participar. No dia da inauguração da ponte toda cidade estava lá para ver o desfile da moradora mais antiga, que, quando se deparou com os guardas que foram buscá-la em casa, teve um surto de pavor e morreu na mesma hora. As autoridades se reuniram imediatamente e concordaram que não podiam tornar público o ocorrido, pois a história dessa morte causaria ainda mais aversão dos moradores em relação a nova obra. Decidiram então amarrar o corpo da idosa a um suporte com rodas a ser empurrado por um dos guardas. Justificaram que a emoção era tanta que a idosa estava com dificuldade de andar. O desfile aconteceu sem que ninguém percebesse. E foi assim que a primeira pessoa a atravessar a nova ponte foi uma defunta!

Depois, por estar em um ponto alto do rio, a ponte se tornou lugar preferido de suicidas. As autoridades providenciaram então redes de proteção que impediam a queda das pessoas na água. Mas logo as redes de proteção passaram a ser usadas para apostas de coragem entre moradores embriagados, e em apenas alguns dias após sua instalação haviam sido retirados das redes mais bêbados se vangloriando de ganhar apostas do que suicidas em potencial. Foram retiradas as redes e os Samaritanos espalharam avisos ao longo da ponte com um número de telefone para os deprimidos buscarem ajuda. 
Mas antes que a ligação seja atendida por alguém que realmente se importa, uma gravação solicita pagamento pelo atendimento. A vida é dura!

Meu último passeio na cidade foi uma visita a parte subterrânea da Edimburgo de séculos atrás. Só que enquanto esperávamos nosso grupo se formar para seguir a guia, resolvi comprar uma jacket potato, uma babata que se come na casca com salada. Dica: a menos que você coma super-rápido, não compre nada comestível a 2 minutos de começar um passeio.
Enquanto eu começava na potato que eu pedi pequena, mas o atendente me deu extra-large, a guia, uma menina muito cheia de pó branco no rosto e com um vestido de época preto perguntou quem ali no grupo era mente-aberta para os acontecimentos do além, acredita em uma realidade paralela e na possível existência de um mundo sobrenatural entrando em contato conosco? Todos levantam a mão, menos eu. E quem é totalmente cético, acha que isso tudo é bobagem? Só eu levanto a mão. A menina ri e diz que “isso vai ser interessante”. Foi.

De fato, não acredito nessas coisas e não existe filme de terror capaz de me meter medo. Antes de passar para as galerias subterrâneas, que já ocuparam um espaço enorme da cidade abaixo de onde hoje se estende a Royal Mile, a guia pergunta se existe alguma grávida ou pessoa com asma no grupo, e avisa que em caso de emergência ficássemos à vontade para solicitar uma saída de emergência. Apesar de mastigar o mais rápido que podia, a batata tava muito quente e tive que partir pro subterrâneo com a jacket potato. 

Quando a gente chega no lugar da visita, vê-se que não tem nada lá. São apenas corredores e salas que eram ocupadas como quartos e moradias. Essas galerias eram parte da cidade que vivia aberta à luz do sol e foi soterrada por algum motivo. E então as galerias subterrâneas, num espaço consideravelmente grande de escuridão, viraram casa de marginais, prostitutas e mendigos que não tinham condições de pagar aluguel ou hospedarias. Por reunir cada vez mais gente em condições de vida precária, disputando um espaço úmido, escuro e cada vez mais reduzido, o ambiente foi cenário das mais crueis atrocidades, entre violência contra crianças e idosos, roubos, estupros, assassinatos.

Lá dentro paira um silêncio quase tão pesado quanto o ar impregnado de umidade. E a guia, que é antes de tudo uma ótima atriz e uma forte, ainda que não seja sertaneja, vai narrando histórias das atrocidades que aconteciam ali dentro, quando pessoas viviam no frio e na umidade, e em meio à violência e à escuridão. Ela posiciona a lanterna de baixo para cima, o que dá ao rosto um efeito fantasmagórico. E lá dentro perde-se o contato com o mundo exterior. Não se vê luz ou se escuta o barulho da rua. Em certo momento a atriz desliga a lanterna para que possamos saber como era escuro para quem vivia ali.

Com uma voz preparada para assustar, a guia nos conduz a imaginar as cenas e a forma horrível como várias pessoas haviam morrido exatamente ali. E conta sobre os fenômenos paranormais que acontecem no lugar, como aparição de vultos, vozes, gritos de dor, pedidos de socorro e manifestações de poltergeists, que, segundo ela, já se manifestaram durante outras visitas guiadas atirando pedras, arranhando e puxando os cabelos dos visitantes. Lembre-se que eu estava, literalmente, segurando uma batata quente durante todo o percurso.

Uma das histórias envolvendo o lugar é a do fantasma de Annie. Durante o período da peste, por haver grande quantidade de ratos nas galerias subterrâneas, as autoridades resolveram soterrar o lugar, fechando com terra todas as entradas. A ideia era matar não só os ratos, mas também os doentes que viviam ali. Muito tempo depois, quando as galerias foram reabertas e transformadas em roteiro turístico sobre a Edimburgo do passado, um fantasma atormentava os visitantes com choro e gritos. Uma médium visitou o local e disse que havia o espírito de uma criança, que havia ficado presa, sem a mãe e sem nenhum brinquedo. A médium providencia uma boneca para colocar no local que o espírito se lamentava. Desde então o choro cessou e levar brinquedos para o “santuário de Annie” se tornou uma tradição entre os turistas.

A nossa visita era de 45 minutos e fizemos o passeio por volta da 1h da tarde. E eu fui tomada por um medo infantil avassalador. A hora não passava e eu só queria sair correndo daquele lugar horrível. A temperatura lá embaixo é sempre menor em relação ao exterior e as pessoas começavam a exalar fumacinha pela boca. Nisso, a guia explica que quando está próximo de vivenciar um contato com o mundo dos mortos, nosso corpo sofre uma queda súbita de temperatura. Entramos em uma sala com um círculo de pedra no meio. Não sem antes a guia informar que o círculo foi colocado ali porque se trata do ponto exato em que uma ossada foi encontrada e, segundo pesquisas, trata-se de uma morte extremamente violenta. A guia pede que ninguém invada o círculo, porque o espírito iria se manifestar de forma violenta, como já havia acontecido antes. Enquanto contava outras histórias, uma adolescente do grupo pergunta se ela pode entrar no círculo para ver o que acontece. E eu calculei em quantos segundos voaria para a saída de emergência mais próxima.

Antes que eu cometesse o vexame de pedir pra sair antes do passeio terminar, uma mulher do grupo se antecipou a mim e falou pra guia que estava sentindo alguém apertando a garganta dela e estava sufocando. Pânico, claro! Eu tentava me concentrar no fato de que lá fora havia vida e um sol como raramente na Escócia, com carros e pessoas vivas passando bem acima das nossas cabeças. Tentei também a técnica de “parar de entender Inglês”, muito utilizada por mim para ignorar as bobagens que os bêbados do pub onde eu trabalhava diziam. Mas as palavras da atriz-guia não paravam de entrar na minha cabeça, no meio da escuridão com cheiro de unidade. E o pavor tinha tomado conta do meu ser.

A visita termina em um pub. A gente entra por uma porta lateral, vindo de uma das galerias. E ganhamos uma dose de uísque, que veio muito a calhar. Não existe nada além de galerias e salas vazias num espaço escuro e úmido nessa visita à Edimburgo subterrânea. Isso e o melhor de todos os ingredientes, capaz de transformar um espaço vazio no que quer que seja: a nossa imaginação.

Quando desabafei pra menina que “it was really scared” ela deu uma risadinha. Deve ter pensado que os céticos são os que mais sentem medo.

Sob efeito do uísque e da luz do sol, tudo parece uma grande bobagem. Não há motivo para sentir medo, arrepio na espinha ou seja lá o que mais eu senti. Mas eu só sei que vale a pena se deixar levar pela imaginação e entrar no clima das histórias de terror quando visitar Edimburgo. Faz parte do charme da cidade! Ah, e não se preocupe. Ainda têm muitas outras histórias que eu não contei aqui...

(mais informações sobre esse passeio no site www.realmarykingsclose.com)

 

 

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