quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Chove

Chove desde segunda. O meu All Star branco é marrom. Perdi a conta de quantos banhos de chuva já tomei e de quantas vezes a sombrinha virou. Porque o vento norte de Santa Maria definitivamente se transferiu pra Dublin. Mas raramente é aquela chuva “gorda”, com pingos expressivos. Quase sempre uma chuvinha rala e gelada, pulverizando. Não se ouve a chuva de dentro de casa, como no país tropical.
Esta semana troquei com a Débora e trabalhei segunda e terça. Na terça o gerente sumiu, me deixou sozinha atendendo uma mesa e o telefone. Quando os pratos dessa mesa vieram no elevador da cozinha, onde as comidas são preparadas, estavam lá no fundo e eu não alcanço. Liguei cinco vezes pro Ahmed e nada. Depois vi que ele tinha esquecido o cel ali. As minhas opções eram falar com boss pelo interfone ou pedir pro cliente pegar seu próprio prato no elevador. Interfonei e disse que mandaria o elevador com os pratos de volta, e pedi que ele colocasse mais na ponta. Antes de desligar, ouvi ele me chamar de “bastard” (bastarda), o que pra eles é uma ofensa horrorosa. E pra eles as palavras têm um peso diferente do da nossa cultura. Os indianos tratam casamento pros filhos pela palavra, os irlandeses não usam dar recibo quando alugam um apartamento porque fica acertado verbalmente que já foi pago... Então fiquei muito chateada, não pelo valor semântico da palavra, que em Português nem chega a ser uma ofensa, mas pela falta de respeito. Afinal, eu não mandei me deixarem sozinha e tava fazendo o meu melhor. Expliquei pro gerente que estava ofendida e quando o boss finalmente desceu da cozinha pra ir embora, às 10 e meia, perguntei do que ele tinha me chamado no interfone. Ele se fez bem de louco que não lembrava. Mas o fato é que eles não tem o hábito de respeitar as mulheres no trabalho, nos negócios. E eu não tenho vontade de trabalhar mais lá, por uma série de motivos. Na verdade o que mais me ofende é a exploração. Pagar 5 quando o mínimo é de 8,65 por hora é a pior ofensa que alguém pode me fazer.
Ontem saí pra entregar currículos em lojas do shopping Jervis que vi on line que tinham vagas. E fiquei sabendo dessas vagas bem por acaso. Tava procurando onde fica o “Jervis Place”, porque tem um apartamento lá pra eu visitar amanhã, e entrei no site do shopping por acaso. Daí me inscrevi on line e fui lá deixar CV. Uma das lojas é a Schuh (que eu não sei como se pronuncia), e a vaga é, na verdade, pra loja que fica na O'Connel Street, e não no Jervis. É uma loja de sapatos que tem muuuuitos sapatos, inclusive All Star e galochas, que eu amo. (isso não vai prestar). E o melhor é que pagam 10,55 por hora. Quero muito que me chamem! Hoje depois da aula passei na loja da O'Connel, onde inclusive a moça da loja do shopping me disse que tem algumas brasileiras atendendo, pra deixar o currículo também. Mas me disseram que era melhor entregar junto com o meu comprovante de inscrição on line pra vaga, que eles mandam uma confirmação pro e-mail.
Ontem, enquanto deixava CV em uma das lojas, estava conversando com o gerente e saí com a frase, super espontânea, “yes, I'm student, but I can drive my time”, achando que estava dizendo que apesar de estar estudando eu daria um jeito com os horários e poderia trabalhar full time, que são as 8 horas por dia. Só que na hora soou estranho e eu percebi que nunca tinha ouvido ninguém dizer desse jeito. Hoje na aula perguntei e o professor confirmou. De fato, essa expressão não existe! Praticar um idioma tem dessas coisas.
Hoje fiquei sabendo pela colega Mariana, que é de Vitória, ES, que a biblioteca fica na Galeria Ilac, que é aqui ao lado do prédio e que eu atravesso todos os dias pra ir pro lado par da cidade. Eu já tinha ouvido falar de uma biblioteca onde a gente pode fazer aulas adicionais de qualquer idioma gratuitamente, mas não imaginava que fosse do lado de onde eu moro. Já tenho a minha carteirinha e já peguei o primeiro livro (The lost Prophecies – an historical mystery by the medieval murderers, ou seja, alguma coisa do tipo “as profecias perdidas – mistérios históricos de assassinatos medievais). Além das aulas e dos livros, que a gente tem 3 semanas pra ler e pode renovar, ainda tem DVDs pra ficar por uma semana. Beleza! Já tô louca pra alugar um apartamento que tenha DVD pra assistir mil filmes. Aqui a TV funciona com cartão, como um telefone pré-pago. E o número de canais também depende do cartão, dos créditos que tu comprou. Comprar uma TV é barato. O problema é pagar todo mês pela programação com esses cartões. Os canais jornalísticos repetem a mesma notícia trocentas vezes. E os repórteres fazem as chamadas e as entrevistas com uma empolgação, uma entonação super estranha, comparado ao nosso jornalismo “sou imparcial/ nada me abala”. Aqui não existe aquela história de dar todas as notícias como se fossem a mesma, com a mesma entonação. Os repórteres “entram no clima”. Parece um teatro. Sandra Anemberg iria se dar bem! E as propagandas, os textos publicitários, na maioria fraquinhos, sem a nossa criatividade e malícia latina, com humor pouco inteligente e óbvio demais pro meu gosto. É tudo muito explicado e propagandas com depoimentos estão no auge. Ah, e tem também as propagandas que eu não fico sabendo qual produto estão anunciando...


Vou providenciar um photoshop pra recortar essas fotos, prometo...



2 comentários:

  1. Hey guv!
    Take care with the fraggin' scousers!
    Nice to know you're finally traveling!

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  2. Como a gnt compara as coisas quando tá longe, né Sabrina??!!

    A gnt vê tudo diferente mesmo...a chuva, o vento, a música...

    Vo torcer pra ti conseguir o outro emprego...já achava os indianos um povo pra lá de esquisito, agora já os odeio!! hheheh

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